segunda-feira, 6 de setembro de 2010

11/07/10 Parte 2


Cheguei no aeroporto de Santiago ainda no mesmo dia. Aquele aeroporto é simplesmente uma bagunça, muitas pessoas de muitos lugares diferentes.
Fiquei esperando minha mochila de maneira muito apreensiva, sabia que algo não estava certo. Eram aproximadamente umas seis esteiras de bagagens, em alguma delas minha mochila deveria estar.
As Espanholas
Eis que o destino teria que aprontar usando o maior ponto fraco do homem. As mulheres. Surge um grupo de espanholas violentamente gostosas. Uma delas estava com uma blusa que mais parecia um pedaço de pano. Eu sabia que não poderia perder o momento em que ela se abaixaria para pegar sua bagagem.Procurei um lugar estratégico no saguão para presenciar o momento exato. Por alguns instantes eu deixei de procurar minha mochila e esperei. Como uma raposa que espera a galinha se afastar do galinheiro para dar o bote certeiro.
Ela se abaixou e eu vi. Ela também viu que eu vi. Ela riu e ficou vermelha. Eu não ri e fiquei vermelho ao extremo. Passei de tarado. Tudo que eu não poderia ser eu fui. Aquilo abalou minha manhã.

Todos os passageiros já haviam resgatado suas bagagens, menos eu. Comecei a ficar preocupado e perguntei para um holandês se ele sabia em qual esteira estavam saindo as malas do pessoal que vinha da Argentina. Ele me disse que era na número 6.
Corri para lá e constatei que não haviam mais malas ou mochilas naquela esteira. Resolvi tirar de minha bagagem de mão a minha passagem de ida para Punta Arenas e para meu desespero vi que me faltavam cinco minutos para o avião decolar. Ainda não tinha feito nem o check-in. Minha mochila continuava sumida. Eu estava fudido até o talo.
Fui com uma cara de morte falar com o guardinha que tinha um radinho e um labrador. Ele me disse para procurar no balcão de resgates. Lá me fui eu. Lá estava minha mochila, deitada com uma cara de desafio. Peguei a pesada mochila e corri para o detector de metais e fui chorar pro tiozinho me deixar passar na frente porque me faltavam dois minutos. Ele estava dando instruções pra um austríaco veterano que não entendia porra nenhuma de espanhol. Quando fui tentar pegar alguma informação, o austríaco me deu a maior mijada em alemão que eu já levei. Também não entendi merda nenhuma, mas sabia que deveria esperar minha vez de ser atendido.
Quando finalmente o austríaco entendeu as instruções do guarda e eu pude ser atendido, ele me deixou passar na frente de todos e até uma família de hippies australianos me ajudou a botar a mochila na esteira. Todos notaram o meu desespero e não reclamaram.
Agarrei minha mochila mais larga do que eu e corri em direção às escadas. O embarque era no terceiro andar.
No meio da minha correria eu derrubei um guardinha quando a minha mochila prendeu no uniforme dele. Ele me xingou muito, mas eu não tinha tempo de ajuda-lo e pedi desculpa enquanto corria escada acima.
Cheguei no check-in suando que nem um porco. Tive que chorar para mais duas moças que me deixaram entrar na fila de "casos especiais". Uma delas pegou minha passagem e com calma me disse que eu ainda tinha uma hora de sobra. Como assim? Tu tá louca mulher?!
Não, ela não estava louca. Eu realmente estava adiantado. O horário brasileiro está uma hora na frente do de Santiago. Eu quase chorei de felicidade. Quase dei um beijo na gordinha que aguardava na minha frente. Lá estava eu. Feliz mais uma vez.
Arrumei meu relógio, despachei minha mochila. Fui comer um Dunkin Donuts e esperar meu voo para Punta Arenas.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

11/07/10 Parte 1



Cheguei durante a madrugada em Buenos Aires, não ficaria por lá. Apenas esperava meu próximo avião para Santiago que deveria sair cinco horas depois da minha chegada em território inimigo. Como tenho cara de argentino, me infiltrei bem no meio dos hermanos que falavam um espanhol rápido. Quase um italiano.
Quando cheguei no guiché da Gol para pedir algumas informações, percebi que não havia ninguém lá. Isso me causou um pânico momentâneo. Não sabia o que fazer. Teria que recorrer aos argentinos. Não tinha escolha.
Fui até o balcão de informações para me informar que a Gol abriria somente as 3h. Tive que me sentar e aguardar. Uma espera que me durou três capítulos do livro "O Chamado da Floresta".
Quando consegui todas as informações que queria, resolvi sentar e colher os frutos da minha vitória sobre o azar, que pensei estar no meio encalço. Tive um combo de felicidade por não ter mais nenhuma pendência para o meu próximo embarque. Estava em uma vibe tão boa, que duas argentinas se sentaram próximo a mim.


As Argentinas:
Eram duas argentinas. Passaram por mim e olharam. Depois voltaram e sentaram ao meu lado. Logo me espiei. Tentei me ajeitar de uma maneira elegante no sofá do aeroporto. Uma delas abriu o notebook e começou a mostrar uns vídeos da viagem delas pra Foz do Iguaçu no Paraná.
Uma delas me falou algo que não entendi. Disse que não tava entendendo porque eu era brasileiro (e brasileiros entendem pouca coisa mesmo). Elas começaram a falar bem devagar, como se eu fosse um retardado, que aquilo era Foz do Iguaçu. Meu país.
Falei algumas coisas sobre o Brasil com elas. Eu disse que eu era do sul do Brasil e que era gremista. Elas riram muito e disseram que eram Boca. Argentinas e torcedoras do Boca! Aquilo estava me soando como cilada.
Conversamos bastante até que chegou minha hora de pegar outro avião até Santiago. Não peguei o contato delas por dois motivos, primeiro porque eram argentinas e segundo porque sou atrapalhado mesmo.

domingo, 15 de agosto de 2010

10/07/10


Assim como eu tento sumir nos meus aniversários, minha ida para o Chile foi quase uma fuga. No aeroporto não estavam meus amigos. Não gosto de cerimonias. Muito menos de despedidas. Gosto de reencontros, mas não de despedidas. Meus amigos sabem disso e respeitaram meu momento apenas me desejando sorte via internet ou telefone.
Quando todos souberam dos meus planos de ir até o Chile para fazer trilhas completamente sozinho, acharam que eu fosse louco. Mas eu sabia que isso era a coisa mais sensata que eu poderia fazer. E fiz.
Comprei bons livros, que foram meus maiores companheiros durante a viagem e parti em direção à sala de embarque do Aeroporto Internacional Salgado Filho. Portava uma barba de mendigo e uma mochila enorme que agussava a curiosidade de todos que esperavam seus voos para algum lugar ou se despediam calorosamente de alguém.
Minha mãe se despediu de maneira muito aflita, me abraçando muito forte. Meu pai me deu um pequeno tapa nas cotas e me desejou boa sorte. Ele sabe que não sou tipo emotivo.
Pensativo me sentei na sala de embarque e rezei um terço que ganhei da minha por parte de mãe. Sabia que a partir dali não teria mais como voltar. Era eu e Deus. Em uma jornada que duraria vinte dias em países que sequer falam minha língua.
Deixei pra trás meus queridos amigos e animais de estimação. Os gatos Simbad, Polly e Wendy, e a minha querida companheira dálmata Laika. Sabia que eles sofreriam muito na minha ausência, mas eu voltaria logo e eles iriam me receber com um sorriso na porta de casa.
Na hora de passar pelo detector de metais, tive que tirar o cinto na frente de todos. Foi um tanto constrangedor, mas lidei com a situação com a minha habitual cara de homem brabo.
Entrei no avião e meu lugar foi tomado por um jovem negro. Resolvi que ele poderia ficar com meu assento e me fui para o último lugar do avião, uma poltrona ao lado do banheiro. Estava bem localizado. Do meu lado foram seis baianos que não pararam de falar o tempo todo. Ao longo da viagem descobri que os nordestinos são de um Brasil completamente diferente do meu.

sábado, 10 de julho de 2010

Bye Wayne


Deixo pra trás todas as preocupações de trabalho e faculdade, contas a pagar, horários a cumprir, gurias que precisam de uma imagem positiva minha, amigos que esperam que eu seja amigo, gatos e cachorros que aguardam meu retorno da labuta diária e uma família que fica com o coração na mão. Vou ser eu mesmo, me preocupando comigo.
Terei novos amigos em minha solidão, não terei tempo pra gurias (talvez alguns minutos, talvez...), meus animais estarão livres na natureza e eu serei deles e não o contrário. Minha família será a estrada que me aguarda silenciosa. Dependo do meu bom senso. Sou um homem livre, um homem que voltará mais livre ainda. Minha mente segue aberta, como sempre.
Now i walk into the wild, bye wayne.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

O pulo do lobo


É impressionante como as pessoas ficam apavoradas quando conto meus planos de como chegar até a Patagônia e de como eu vou sobreviver. Todos se põe no lugar da minha mãe e me enchem de recomendações para eu não morrer lá.
Todos também ficam super empolgados com essa minha "aventura". Todos acham legal, mas niguém gostaria de fazer. São poucos os que topariam.
O marido de uma colega de trabalho disse pra ela que eu vou ser "mais homem" quando voltar de lá. Acho que serei uma "pessoa melhor" quando voltar. É das dificuldades que tiramos o crescimento e o autoconhecimento. Estou pronto para esse grande e esperado desafio da vida.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Faltam 2 dias


Preciso ir porque não aguento mais essa linda cidade que cresce desenfreadamente. As consequencias são terríveis e devastadoras. Preciso ir porque não sou muito de festas, trânsito, shoppings, pessoas, multas, contas e telefones.
Meu bairro (Guarujá) que sempre foi um bairro tranquilo, cercado de montanhas, alguns terrenos com mato e um belo rio, se tornou um bairro de condomínios com casas pré-prontas e barracos que se acumulam um por cima do outro. Não é mais o meu Guarujá em que eu ficava atá as 22h na rua jogando bola ou taco, não é o Guarujá em que eu subia a montanha pra escalar as enormes pedreiras nem o bairro em que eu caminhava toda a tarde descalço roubando laranja dos vizinhos. Preciso achar um novo lar, longe dos malditos carros, telefones e sons automotivos exageradamente altos (coisa de gente brega).
Já tenho quase 25 anos e está na hora de conhecer novos lugares e pessoas. Deixar essa linda Porto Alegre que está demasiadamente grande e ir pra um lugar de pessoas como eu. Vou começar pela Patagônia.

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