terça-feira, 17 de agosto de 2010

11/07/10 Parte 1



Cheguei durante a madrugada em Buenos Aires, não ficaria por lá. Apenas esperava meu próximo avião para Santiago que deveria sair cinco horas depois da minha chegada em território inimigo. Como tenho cara de argentino, me infiltrei bem no meio dos hermanos que falavam um espanhol rápido. Quase um italiano.
Quando cheguei no guiché da Gol para pedir algumas informações, percebi que não havia ninguém lá. Isso me causou um pânico momentâneo. Não sabia o que fazer. Teria que recorrer aos argentinos. Não tinha escolha.
Fui até o balcão de informações para me informar que a Gol abriria somente as 3h. Tive que me sentar e aguardar. Uma espera que me durou três capítulos do livro "O Chamado da Floresta".
Quando consegui todas as informações que queria, resolvi sentar e colher os frutos da minha vitória sobre o azar, que pensei estar no meio encalço. Tive um combo de felicidade por não ter mais nenhuma pendência para o meu próximo embarque. Estava em uma vibe tão boa, que duas argentinas se sentaram próximo a mim.


As Argentinas:
Eram duas argentinas. Passaram por mim e olharam. Depois voltaram e sentaram ao meu lado. Logo me espiei. Tentei me ajeitar de uma maneira elegante no sofá do aeroporto. Uma delas abriu o notebook e começou a mostrar uns vídeos da viagem delas pra Foz do Iguaçu no Paraná.
Uma delas me falou algo que não entendi. Disse que não tava entendendo porque eu era brasileiro (e brasileiros entendem pouca coisa mesmo). Elas começaram a falar bem devagar, como se eu fosse um retardado, que aquilo era Foz do Iguaçu. Meu país.
Falei algumas coisas sobre o Brasil com elas. Eu disse que eu era do sul do Brasil e que era gremista. Elas riram muito e disseram que eram Boca. Argentinas e torcedoras do Boca! Aquilo estava me soando como cilada.
Conversamos bastante até que chegou minha hora de pegar outro avião até Santiago. Não peguei o contato delas por dois motivos, primeiro porque eram argentinas e segundo porque sou atrapalhado mesmo.

domingo, 15 de agosto de 2010

10/07/10


Assim como eu tento sumir nos meus aniversários, minha ida para o Chile foi quase uma fuga. No aeroporto não estavam meus amigos. Não gosto de cerimonias. Muito menos de despedidas. Gosto de reencontros, mas não de despedidas. Meus amigos sabem disso e respeitaram meu momento apenas me desejando sorte via internet ou telefone.
Quando todos souberam dos meus planos de ir até o Chile para fazer trilhas completamente sozinho, acharam que eu fosse louco. Mas eu sabia que isso era a coisa mais sensata que eu poderia fazer. E fiz.
Comprei bons livros, que foram meus maiores companheiros durante a viagem e parti em direção à sala de embarque do Aeroporto Internacional Salgado Filho. Portava uma barba de mendigo e uma mochila enorme que agussava a curiosidade de todos que esperavam seus voos para algum lugar ou se despediam calorosamente de alguém.
Minha mãe se despediu de maneira muito aflita, me abraçando muito forte. Meu pai me deu um pequeno tapa nas cotas e me desejou boa sorte. Ele sabe que não sou tipo emotivo.
Pensativo me sentei na sala de embarque e rezei um terço que ganhei da minha por parte de mãe. Sabia que a partir dali não teria mais como voltar. Era eu e Deus. Em uma jornada que duraria vinte dias em países que sequer falam minha língua.
Deixei pra trás meus queridos amigos e animais de estimação. Os gatos Simbad, Polly e Wendy, e a minha querida companheira dálmata Laika. Sabia que eles sofreriam muito na minha ausência, mas eu voltaria logo e eles iriam me receber com um sorriso na porta de casa.
Na hora de passar pelo detector de metais, tive que tirar o cinto na frente de todos. Foi um tanto constrangedor, mas lidei com a situação com a minha habitual cara de homem brabo.
Entrei no avião e meu lugar foi tomado por um jovem negro. Resolvi que ele poderia ficar com meu assento e me fui para o último lugar do avião, uma poltrona ao lado do banheiro. Estava bem localizado. Do meu lado foram seis baianos que não pararam de falar o tempo todo. Ao longo da viagem descobri que os nordestinos são de um Brasil completamente diferente do meu.

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